Durante o 18º Festival Internacional de Cinema Infantil (FICI), que este ano será online e gratuito, o Fórum Pensar a Infância dedicará um bloco de sua programação à primeira infância, a partir do dia 15 de outubro, na plataforma do festival (fici.com.br). Ao todo, cinco painéis reunindo cientistas com destacada atuação na área falarão sobre a formação do cérebro (Patricia Garcez); o aprendizado da comunicação (Olga Rolim Rodrigues); a neuroplasticidade – o que modifica do cérebro na infância e no decorrer da vida (Roberto Lent); a influência da alimentação, do sono e do exercício no desenvolvimento humano (Sergio Gomes da Silva), e como se desenvolvem as competências sócio-emocionais (Rochele Fonseca), todos com mediação da neurocientista Marília Zaluar, Doutora em Ciências Biológicas (Biofísica/Neurociências) pela UFRJ e pós-doutora como Pew Latin American Fellows na UCSF (EUA). Atualmente, Marília é professora associada da UFRJ, pesquisadora colaboradora no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e Coordenadora Científica da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE).
“Esta foi mais uma possibilidade aberta com a versão digital que o FICI ganhou este ano. Além de podermos chegar a todo o Brasil, com mais de 120 títulos, entre curtas, médias e longas-metragens, videoclipes, séries televisivas, e até outras formas de expressão, como o teatro, a dança e a música, temos também a oportunidade de contar com a participação de diversos profissionais, como os cinco cientistas convidados, que dificilmente teriam condições de estar em uma edição presencial, por conta da intensa demanda e agenda de seus trabalhos e pesquisas em diferentes regiões do país”, explica Carla Esmeralda, cocriadora e diretora do festival, ao lado de Carla Camurati, que completa: “A nossa ideia foi incorporar às discussões do Fórum – mais ligadas à produção e aos rumos do audiovisual infanto-juvenil – temas que interessassem diretamente aos pais e professores sobre o desenvolvimento das crianças. As palestras são bem ilustrativas e com uma linguagem acessível a leigos, ministradas por especialistas, que apresentam estudos e pesquisas pouco acessíveis ao grande público com essa profundidade”.
Olga Rolim Rodrigues, professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da UNESP, campus de Bauru, em São Paulo, fala sobre a importância da interação entre pais e bebês, desde a gestação, para o desenvolvimento da linguagem e outras habilidades. Até a escolha da creche é importante: “O bebê é estimulado quando a fala é direcionada a ele, há contato visual e o incentivo à criança interagir. De nada adianta os cuidadores conversarem entre si, ignorando os bebês”, exemplifica Olga.
A neuroplasticidade, característica do cérebro de se modificar ao longo da vida, é o tema da palestra de Roberto Lent, pesquisador do CNPq, membro titular da Academia Brasileira de Ciências, professor emérito da UFRJ e chefe do Laboratório de Neuroplasticidade, onde dirige uma equipe voltada para o estudo da Neuroembriologia e Neuroplasticidade. Lent é também pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, à frente do estudo da Neuroplasticidade e Neuroeducação, e fundador e Coordenador Geral da Rede Nacional de Ciência para a Educação, além de atuar para a popularização da ciência para adultos e crianças, com livros e artigos publicados para ambos os públicos. Em sua apresentação, Lent disseca o desenvolvimento neuropsicológico do cérebro e o quanto ele se modifica ao longo da vida.
A longa jornada da formação cerebral, que começa na gestação e só se conclui totalmente por volta dos 25 anos, é explicada com a ajuda de ilustrações e filmes pela professora da UFRJ e Pesquisadora da Rede Nacional de Ciência para a Educação Patricia Garcez. Afiliada da Academia Brasileira de Ciências, Patrícia tem experiência na área de Neurociências com ênfase na formação e malformações do cérebro.
Uma das crenças mais comuns em relação ao sucesso escolar, de que crianças que se dedicam aos exercícios físicos tem menor aptidão para os estudos, ao contrário daqueles que estudam horas a fio, é um dos mitos derrubados pelo neurocientista Sérgio Gomes da Silva, Doutor em Neurologia / Neurociência e pós-Doutor no Departamento de Fisiologia da UNIFESP, mestre em Engeharia Biomédica (UMC) e graduado em Fisioterapia (UNIG). Segundo sua pesquisa, a prática de exercícios físicos melhora o desempenho escolar, tanto na matemática, quanto na linguagem, da mesma forma que uma boa nutrição na primeira infância e o sono regulado são fundamentais para o pleno alcance das potencialidades cerebrais.
Já a psicóloga e fonoaudióloga Rochele Paz Fonseca, Professora Titular e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Cognição Humana) da PUCRS; Presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp), Membro do Conselho Técnico-Científico da Rede Nacional de Ciência para a Educação (Rede CpE) e Membro do Science Committee da International Neuropsychological Society (INS), disseca o desenvolvimentos socioemocional das crianças a partir de domínios cognitivos como Atenção (o quanto nos mantemos concentrados em uma atividade ao longo de sua duração, a base para o aprendizado e a memorização), Memória (um dos pilares da identidade e história de vida do indivíduo) e as Funções Executivas (memória de trabalho, controle inibitório, flexibilidade cognitiva e autorregulação emocional), responsáveis pelo gerenciamento das demais. A partir dessas questões, Rochele fala de diversos estímulos, como o papel do cinema para a consolidação de diversas dessas funções – como atenção, memorização e motivação –, dos desafios e algumas vantagens da quarentena e a enorme importância da leitura na formação e desenvolvimento cerebral, que pode inclusive ajudar a suplantar uma eventual carência na escolarização.
A mediadora Marília Zaluar destaca o papel da cultura e o incentivo à leitura desde cedo como potentes ferramentas para a cognição e maturidade emocional; “É incrível como a nossa vida é modulada pelas histórias. A gente ouve histórias, lê livros, vê filmes, e isso é muito rico porque é um aprendizado, tudo isso mudando e moldando nosso cérebro, como a gente é, como a gente reage a essas ações, desenvolve empatia e habilidades emocionais de trabalhar em conjunto e resolver problemas”.
FICHA TÉCNICA:
18º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA INFANTIL – FICI
Apresentação: Ministério do Turismo e Secretaria Especial da Cultura através da Lei Federal de Incentivo à Cultura
Patrocínio: Cinemark
Apoio: Telecine e Mistika Post
Coprodução: Esmeralda Produções
Realização: Copacabana Filmes e Produções, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal
Direção: Carla Camurati e Carla Esmeralda
SERVIÇO:
De 15 de outubro a 2 de novembro
Acesso gratuito