No mês de junho, com a chegada do inverno, as campanhas do agasalho se intensificam e são comumente estendidas aos cães de rua. Será que esses animais sentem frio? E quais ações são, de fato, eficazes, para ajudá-los nesta estação?
Camilli Chamone, geneticista, consultora em bem-estar e comportamento canino e criadora da metodologia neuro compatível de educação para cães no Brasil, explica, com base em estudos relacionados à Fisiologia, como o de Guyton & Hall (“Tratado de Fisiologia Médica”), que cães são animais adaptados ao frio, uma vez que seus ancestrais evoluíram em regiões muito geladas do Planeta.
Prova disso é a maneira pela qual regulam a temperatura corporal: através da respiração – ao contrário dos humanos, eles praticamente nem transpiram. “Ao longo do processo de evolução, inspirar o ar frio foi a forma que os cachorros encontraram de regular a temperatura do próprio corpo. Com isso, viver em locais de clima quente acaba sendo muito mais desafiador para eles, pois ficam ofegantes na tentativa de reduzir a temperatura do corpo, inspirando ar frio. Não raro, o calor leva os cães a morrerem de hipertermia”, detalha.
Assim, frentes frias só começam a ser complicadoras para o animal quando as temperaturas ficam negativas, algo raro no Brasil. Além disso, duas características dos cães funcionam como isolante térmico, que os protegem do frio: pelo e gordura corporal. “Não há cobertor mais eficiente do que o pelo. Ele evita que o animal perca ou receba calor em excesso, ajudando a equilibrar a temperatura do corpo”, registra Chamone.
No entanto, é comum que as pessoas humanizem os peludos e se preocupem com tempos invernais. Dentro de casa, eles costumam ser extremamente protegidos e, assim, adquirem mais sensibilidade ao frio. “Quando o cão vive em clima quente, em ambientes fechados, sem passeio ou contato com o ar externo, fica longe das intempéries do frio e se torna mais sensível a qualquer queda de temperatura”, explica.
Para os cachorros de rua, a realidade é outra, já que estão, o tempo todo, expostos a ventos, chuvas e noites mais gélidas. Se estiverem saudáveis, dificilmente sentirão frio, pois são adaptados. “São como os cachorros selvagens, que vivem livres na savana africana e toleram temperaturas noturnas próximas a zero grau; os lobos, de florestas temperadas, abaixo de zero; e os ursos, que toleram temperaturas negativas, no Polo Norte”, exemplifica Chamone.
Sinais de frio e ações para cães de rua
Embora o senso comum sugira verificar a temperatura das orelhas e do focinho, a fim de diagnosticar o frio de um cachorro, Chamone explica que esses parâmetros não são exatos nem confiáveis.
“Só existe um critério confiável: se estiver tremendo, e que não seja em contexto de dor ou medo. Ao tremer, ele realiza uma atividade muscular involuntária, cujo objetivo é aumentar a temperatura de seu corpo”, informa.
Se isso ocorre com um cão de rua, a ação mais assertiva, para ampará-lo, é substituir a campanha do agasalho canina por uma de alimentos. “Para se manter aquecido, através da regulação da temperatura corporal, ele precisa de energia, que será encontrada na comida; ela é o combustível que o peludo necessita para se proteger do frio. Por isso, doar comida é o passo fundamental para ajudá-lo a enfrentar o clima gelado”, simplifica.
Em relação à doação de roupinhas, Chamone alerta: “Nem todo bicho se sente confortável com o uso, e isso definitivamente não irá salvá-lo do frio. Além de incomodar, estas peças podem molhar, em caso de chuva, e piorar a situação. Portanto, é prudente que sejam substituídas por cobertores de chão, que também são bem-vindos. E, caso haja grande sensibilização ao estado de saúde do cão no inverno, o melhor dos mundos será sempre levá-lo ao veterinário para investigar possíveis doenças. Estas são as formas mais eficazes de fazer o bem a um peludinho na estação mais gelada do ano; juntamos, com essas atitudes, ajuda, conhecimento e atos de amor”, finaliza a geneticista.