Recentemente o Brasil registrou desastres com imensuráveis perdas à biodiversidade. Um exemplo é o que ocorreu no Pantanal (MT), em que os incêndios, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aumentaram em 210% em 2020, na comparação com o ano anterior. Esta realidade pode parecer distante do estado de São Paulo (SP), entretanto, a vida selvagem em terras paulistas também requer, de forma iminente, ações preventivas e de contenção de impactos.
“Isso porque áreas remanescentes de importantes biomas que se estendem por SP, como é o caso da Mata Atlântica, estão vulneráveis a ações humanas como a urbanização e a expansão agropecuária indiscriminadas”, diz a médica-veterinária Elma Polegato, presidente da Comissão Técnica de Saúde Ambiental do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CTSA/CRMV-SP).
Prova desta vulnerabilidade são os dados publicados pela SOS Mata Atlântica em outubro do ano passado, apontando áreas queimadas no Estado cuja soma é equivalente a 1,2 mil campos de futebol. “A maior pressão vem da expansão urbana. Ano passado houve muito impacto em decorrência de incêndios e o que vemos é um cenário complexo para ser revertido”, diz o gerente de
Restauração Florestal da SOS Mata Atlântica, Rafael Bitante.
São Paulo possui pouco mais de 2,3 milhões de hectares do bioma, o que corresponde a apenas 12,4% da mata original no Estado, de acordo com relatório de 2019, publicado no ano passado pela Fundação SOS Mata Atlântica. Entre as espécies abrigadas pela mata estão diversas ameaçadas de extinção, como a onça-pintada, o tamanduá-bandeira e o mico-leão-dourado.
Fogo pode dizimar populações inteiras de espécies
Segundo o médico-veterinário Fabrício Braga Rassy, presidente da Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens (CTMVAS) do Conselho, os incêndios são um “grande terror” para a fauna. “Animais atingidos pelas chamas ou pela falta de alimentos no pós-fogo estão sob ameaça em todo o País, alguns podem existir apenas nas regiões afetadas.”
Profissional de longa trajetória com animais silvestres, com experiência em resgate e reabilitação, atualmente à frente da Divisão de Médicos-veterinários da Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP), Fabrício frisa que, com frequência, as sequelas em animais feridos são irreversíveis, o que inviabiliza o retorno à natureza. “Planos de redução do impacto a essas vidas são cruciais.”
Plano de ação requer engajamento
O argumento do médico-veterinário paulista Leonardo Maggio de Castro, integrante da Comissão Nacional de Desastres em Massa Envolvendo Animais do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), vai na mesma direção do de Rassy. “Os governos e a classe médica-veterinária devem se articular para um plano de ação específico aos animais em situações extremas.”
Castro frisa a importância do preparo para gestão de crise e para aplicar o Plano Nacional de Contingência de Desastres em Massa Envolvendo Animais do CFMV, com diretrizes que aumentam as chances de preservar a vida de animais e a continuidade das espécies em caso de deslizamentos, incêndios, rompimento de barragens e vazamento de óleo em rios e mares.
Plano regional é estudado
No que diz respeito à mobilização da classe, o CRMV-SP já iniciou tratativas para a criação de uma comissão voltada à Medicina Veterinária de Desastres, o que será primordial para que médicos-veterinários contribuam para com o mapeamento de situações específicas das cidades do Estado e criem, então, um plano estadual. “Os médicos-veterinários podem garantir as melhores estratégias com foco na vida animal, com base em técnicas, protocolos e condutas profissionais, assim como médicos e bombeiros atuam para preservar a vida humana, no preventivo e nas situações críticas”, frisa Castro.