Você sabe o que acontece quando se reúne um grande artista das palavras com uma referência das imagens? Junte-se a isso, uma premiada ilustradora que publica seu primeiro livro autoral e traz na obra a mesma qualidade de texto e imagem que a consagrou. O resultado dessa adição de talentos se traduz em dois novos livros que acabam de chegar ao mercado brasileiro pela Editora Maralto – que pertence ao grupo Arco Educação – e revelam um prato cheio para leitores jovens e adultos.
Os apaixonados por arte e literatura vão encontrar essas obras no lançamento coletivo de “Uns e Outros – Histórias de Duplas” de autoria de João Anzanello Carrascoza e Nelson Cruz e “Origem” de Anna Cunha. O evento com a presença dos autores está confirmado para 11 de dezembro (sábado), das 11h às 14h, na Quixote Livraria, Editora e Café, em Belo Horizonte-MG. A entrada é franca e no local permanecem os cuidados preventivos contra a Covid-19.
Um é bom, dois é ótimo
Uns e Outros – Histórias de Duplas reúne pela primeira vez o escritor paulista João Anzanello Carrascoza e o autor e ilustrador mineiro Nelson Cruz, ambos premiados dentro e fora do Brasil. No enredo, narrativas sobre afetos, encontros e desencontros, explicações que passam mensagens e se relacionam sempre com os materiais inusitados como lata, pedaços de pano, ferro e tantos outros.
Assim como os materiais formam um diálogo de “Um”, a ilustração, e “Outro”, os contos. Juntos, eles revelam uma contra-dança entre palavra e imagem. E se é para inovar, o livro cumpre na íntegra sua função.
A obra tem duas capas. Por isso, o leitor que chegar à metade terá que virar o livro de ponta-cabeça para continuar saboreando os contos e as ilustrações da aclamada dupla. Mas ficará tranquilo ao notar que a Maralto – recém inaugurada no mercado literário nacional – não fez bobeira. Pelo contrário, abusou na diversidade de formato.
De onde viemos?
Na mesma linha de fina qualidade, a mineira Anna Cunha utiliza em Origem seu talento -premiado dentro e fora do país, em dezenas de ilustrações no Brasil e no mundo – com textos próprios.
A obra reflete sobre o princípio do ser humano de forma poética, trazendo para narrativa explicações que dialogam no mesmo diapasão com a arte de elaborar composições de suas palavras.
Os muitos convites de uma dupla
Tudo parece acontecer rápido no mundo de hoje e há muitas imposições, de naturezas diversas, para que as coisas sejam assim. As informações estão a um toque dos dedos, garantindo que de tudo saibamos, sem qualquer tempo de espera ou até mesmo de amadurecimento de nossas indagações.
Antes mesmo de pensar sobre o que queremos saber, já temos dados e imagens que eliminam nossas dúvidas. Mesmo a literatura – especialmente em sua fruição – é afetada pela pressa, em uma captura das artes pela produtividade.
Quando nos entregamos à leitura de um livro como Uns e Outros – Histórias de Duplas toda essa urgência, mesmo que não percebida, se desfaz, pois somos instados a parar, a assistir a histórias na contramão da urgência que experimentamos a todo momento.
O livro de João Anzanello Carrascoza e Nelson Cruz reúne 22 contos criados com textos e imagens. As narrativas de Carrascoza reafirmam a intensa delicadeza presente no trabalho do autor, com um olhar para episódios que podem parecer pequenos e insignificantes, mas que em sua escrita assumem grandezas de outra ordem, convocando os leitores a uma suspensão do tempo e do espaço.
As histórias contadas são pequenos recortes de memórias e afetos em torno de dois – mãe e filho, avô e neto, homem e mulher, ir e vir – que reinventam a vida comum em experiência estética.
Com técnicas mistas, Nelson Cruz cria quadros imagéticos e sensoriais para as palavras de Carrascoza, intensificando-as e, ao mesmo tempo, sugerindo nuances nos encontros e desencontros narrados. Concertadas com lirismo, humor e experimentações materiais (tintas, papelão, madeira, pequenos objetos), as cenas do artista – e nossas, que as vemos – anunciam potentes experiências com o livro.
Silencioso e eloquente, Uns e Outros – Histórias de Duplas é uma obra lenta e envolvente. Não há pressa em suas páginas, mas sim um sedutor convite para ler e ver, no tempo mesmo de cada momento, de cada um. E para experimentar a beleza das coisas que parecem pequenas e comezinhas, mas que, iluminadas pela criação artística, se mostram plenas e potentes em resistência à rapidez cotidiana que nos distrai da vivência do tempo, do espaço e das relações com outras pessoas.
Sobre os autores
João Anzanello Carrascoza nasceu em Cravinhos, São Paulo, em 1962. Fez o pós-doutorado sobre a interface entre Publicidade e Literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Como escritor, publicou coletâneas de contos e romances e obras para crianças e jovens. Esse trabalho rendeu alguns dos mais importantes prêmios literários do país como o Jabuti, Guimarães Rosa/Radio France Internationale, Fundação Biblioteca Nacional, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
Nelson Cruz nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1957. É autor de 20 livros e já ilustrou mais de 70, tendo seis de suas obras recebido o Prêmio Jabuti.
Pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), foi indicado ao Prêmio Hans Christian Andersen de ilustração, em 2002, e recomendado para a Lista de Honra do International Board on Books for Young People (IBBY), da Suíça, em 2004 e 2012.
Em 2012, os originais do livro Alice no Telhado participaram da exposição Tea with Alice, uma homenagem aos 150 anos do livro Alice no país das maravilhas, no Museu de História de Oxford, em Londres. Em 2015, recebeu o Prêmio ABL de Literatura Infantojuvenil pela obra O livro do acaso. Em 2016, com a obra Haicais visuais, recebeu o Prêmio Monteiro Lobato de Literatura Infantil e Juvenil, da revista Crescer.
Livro: Origem
Um livro de perguntas
Não há infância, mas infâncias. Muitas. Todas elas concretas, desenhadas por suas condições de existência: econômicas, culturais, religiosas, territoriais, políticas. Com exceção do recorte legal – sujeitos de zero a onze anos, onze meses e trinta dias – as crianças são uma categoria opaca e sem muitos contornos, sufocada por tentativas de conformação.
Mas algo pode ser tomado como experiência comum dos pequenos, que chegam sempre a um mundo velho e injusto e carregam o fardo da construção do futuro: a descoberta constante da vida, a brincadeira como exercício de invenção e de reconhecimento de sua própria existência e do mundo ao redor.
O tempo, as infâncias, a existência e a criação fazem, com palavras e imagens, o belo Origem, de Anna Cunha. O livro sussurra as perguntas que nos acompanham desde sempre – quem somos, de onde viemos, o que desejamos, o que guardamos? – e pede para ser lido e visto muitas vezes.
A cada página somos levados a pensar a existência ininterrupta e cíclica do tempo, anunciada nas memórias que nos dizem de começos e fins, inevitavelmente tornados travessias. A ideia de uma ausência criadora – silêncio, escuridão, vazio – que se oferece como convite para invenção da vida, simbolizada nas infâncias, ilumina, com a paleta de cores que já é marca da artista, a vida sempre em marcha com seus mistérios.
No livro não está a criança tábula rasa que nada sabia, do passado, nem os pequenos exaustos da obrigação produtiva de saber, do presente, mas sujeitos que experimentam seus silêncios, celebrando a vida de todos os dias.
Anna Cunha nos convida a uma experiência dilatada do tempo, própria da literatura. Quando tudo parece ter sido dito, estudado, escrito, desenhado, filmado e gravado, deixando-nos todos compulsivamente satisfeitos com respostas para perguntas que sequer foram formuladas, um livro que parece ser “para crianças” cria fissuras em certezas prontas e seguras do nosso tempo.
Velhos convites se renovam com a beleza sempre inaugural do que é valioso, em um caminho inverso: que perguntas temos para tudo que nos é oferecido como resposta?
Sobre a autora
Anna Cunha nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1985. É graduada em Artes Plásticas pela Universidade do Estado de Minas Gerais e pós-graduada em Ilustração pela Escola de Disseny i Art, da Universitat Autònoma de Barcelona.
Ilustrou dezenas de livros publicados no Brasil e no mundo, com títulos selecionados para o Catálogo de Bolonha e premiados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Foi finalista do Prêmio Jabuti, na categoria Ilustração, e recebeu menção honrosa no Prêmio João-de-Barro, na categoria Livro Ilustrado.
Serviço
O que: Lançamento coletivo de livros da Editora Maralto e sessão de autógrafos com João Anzanello Carrascoza e Nelson Cruz (Uns e Outros – Histórias de Duplas, 108 págs., R$ 49,90) e Anna Cunha (Origem, 48 págs., R$ 39,90)
Quando: 11 de dezembro (sábado), das 11h às 14h
Onde: Quixote Livraria, Editora e Café [rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi, Belo Horizonte, tel. 31-98676-1007]
Quanto: A entrada é franca e o local segue com os cuidados preventivos à Covid-19.
Catálogo: O catálogo da Editora Maralto poderá ser conferido no Instagram e Facebook @maraltoedicoes
Studium Eficaz Comunicação
(31) 9.9968-0652