Aproximadamente 2,4 bilhões de impressões. Essa foi a quantidade estimada de folhas de papel utilizada pelo e-commerce brasileiro em todas as suas transações realizadas em 2019, segundo levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). O número diz respeito às quase 150 milhões de compras realizadas no comércio eletrônico durante o ano. Em meio à pandemia, só no primeiro semestre de 2020, o volume de papel aumentou: estima-se que foram feitas 1,6 bilhão de impressões para dar conta dos 91 milhões de pedidos no período.
São por números como esses que a FecomercioSP, em parceria com outras instituições do setor [ver relação abaixo], tem atuado há mais de um ano por uma logística sem papel no e-commerce. As principais propostas da Entidade giram em torno do fim da obrigatoriedade da impressão de documentos fiscais para o envio de mercadorias – ainda não é tão online como se supõe. Hoje, em razão dos processos burocráticos exigidos pelas Secretarias da Fazenda Estaduais, por exemplo, até 16 documentos fiscais são obrigatoriamente utilizados em cada transação feita no comércio eletrônico, sendo que todos poderiam ser disponibilizados digitalmente.
Além do impacto ambiental, a burocracia para a emissão e a impressão dos documentos fiscais obrigatórios pode representar um custo de até 8,5% do faturamento anual das empresas, considerando o gasto com folhas, tinta de impressora e outros insumos necessários, segundo estimativa da FecomercioSP. Mais: os processos de impressão desses documentos podem consumir até 31 dias de um ano de trabalho, impactando diretamente a produtividade das empresas.
Para o consumidor final, há ainda a questão da segurança, já que o documento fiscal anexo às mercadorias circula com suas informações pessoais, como nome, endereço, telefone, CPF e valor do produto.
Em um setor que serviu de alento para a economia paulista em 2020, com previsão de crescimento de 32% em relação ao ano anterior e um aumento de faturamento na ordem dos R$ 7 bilhões – e que deve seguir assim em 2021 –, é fundamental considerar também uma logística sem papel.
Um novo ambiente, mais fácil e seguro
A FecomercioSP, como parte do projeto Logística Sem Papel, que reúne entidades representativas dos setores de comércio, logística e transporte, tem três propostas principais para desburocratizar o processo de entrega de mercadorias do e-commerce, como também do varejo físico: o primeiro deles é acabar com a obrigação de que alguns comprovantes fiscais sejam emitidos em papel, como o Documento Auxiliar do Manifesto de Documentos Fiscais Eletrônicos (DAMDFE), o Documento Auxiliar do Conhecimento de Transporte Eletrônico (Dacte) e o Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica (Danfe) –esses dois últimos são impressos para cada mercadoria adquirida. A ideia é que eles sejam disponibilizados apenas em versões digitais, com código QR com informações sobre a mercadoria e o transporte.
Para as entidades envolvidas no projeto, a medida diminuiria custos e tempo de trabalho das empresas na emissão dos documentos e, ao mesmo tempo, tornaria a transação mais segura aos consumidores.
A segunda proposta se volta mais às práticas do setor do que para as regulações públicas: ela sustenta que os comércios online e físico iniciem projetos de otimização dos seus processos, com o objetivo de reduzir a burocracia na emissão e impressão de determinados documentos. Isso passa por deixar de imprimir contratos, guias, boletos e comprovantes, tornando-os digitais. Esta iniciativa, da mesma forma, significaria redução de custos e dinamização dos processos, como também mais capacidade para organização de dados, deixando-os mais acessíveis, seguros e práticos.
Por fim, a terceira proposta do Logística Sem Papel é que o Poder Público tome a dianteira deste debate e simplifique as regras vigentes para disponibilização de documentos fiscais. Isso passa tanto pela digitalização de serviços públicos, reduzindo a impressão de papéis e estimulando o uso de dispositivos digitais, como pela redução da carga tributária, o que incentivaria as empresas do setor a investir em suas operações, gerando mais empregos e crescimento econômico.
Todas essas propostas podem se materializar facilmente no Brasil – onde quase todos os habitantes têm dispositivos móveis e que dispõe de um setor de e-commerce estruturado em praticamente todas as regiões, sendo que, em muitas delas, foi o que evitou prejuízos maiores na economia em meio à pandemia de Covid-19.