A pandemia de coronavírus mudou abruptamente a vida e rotina do mundo inteiro. Antes acostumados a ir e vir sem nenhum temor, agora nos deparamos com a necessidade do enclausuramento. A medida, determinada para evitar aglomerações, é a principal forma de conter o avanço em ritmo acelerado da doença, segundo as autoridades sanitárias.
De acordo com a psicóloga Ana Luíza Andrade Müller Rodrigues, as pessoas que estão desorientadas por causa da quarentena, sem saber como conseguirão cumprir tal determinação e muito menos por quanto tempo, devem, em primeiro lugar, tentar estabelecer uma rotina, mesmo dentro do lar. “Acorde, tente se exercitar pela manhã [é possível fazer isso, usando seu próprio corpo, sem necessidade de academia]. Caso não saiba como, uma dica é recorrer à vídeos na internet, produzidos por profissionais de educação física, por exemplo”, explica a especialista que atua como Consultora de Desenvolvimento Humano Organizacional do Cetus Oncologia, hospital dia especializado em tratamentos oncológicos com sede em Betim e unidades em Belo Horizonte e Contagem.
A segunda dica, conforme afirma Ana Luíza, é ter cuidado com o excesso de informações disseminadas tanto pelas emissoras de TV e rádio quanto na internet. “Basta ligar a TV ou acessarmos a web para sermos bombardeados de notícias, muitas delas sem a certeza de uma fonte segura. E isso fica muito mais latente quando estamos em casa. Sendo assim, que tal determinar um único momento do dia para ter acesso à informação? Caso contrário, se você não tiver esse equilíbrio, enfrentar o confinamento e as incertezas sobre a duração desse processo pode ser bem mais difícil”, orienta a psicóloga acrescentando que o estresse gerado pelo acúmulo de informações pode causar, até mesmo, ansiedade e síndrome do pânico.
Ainda de acordo com Müller, outra sugestão neste momento de isolamento social é aproveitar para colocar as tarefas em dia. “Leia os livros que estão guardados e há tempos você deseja ler; faça cursos online e não deixe de se desenvolver e se atualizar. Temos que enxergar a oportunidade para descobrirmos novas aptidões que, em nossa vida corrida do dia a dia, são mais difíceis de serem descobertas ou para as quais não damos a devida atenção.”
Dedicarmos tempo àquilo que gostamos também pode ser alentador. Essa fase de quarentena, conforme aponta Ana, é muito oportuna para quem deseja ligar para as pessoas que ama ou resgatar contatos preciosos. “Nesse dinamismo do mundo virtual e da comunicação via whatsapp, esquecemos de falar ‘alô’, ouvir a voz do outro em tempo real, sem ser por meio de áudio ou apenas mensagem. Que tal resgatar isso? A tecnologia pode ser aliada. Para isso, use e abuse das ligações de vídeo, por exemplo. Você não só ouve como vê a pessoa”, exemplifica.
Por fim, mas não menos importante, a psicóloga pede para que não fiquemos preocupados sobre o quanto o confinamento vai durar, mas sim possamos entender que ele é extremamente necessário para que a velocidade da contaminação pela Covid-19 não avance. “Prefiro me apegar aos ensinamentos que vamos tirar dessa experiência do que saber quando ela vai acabar. Dois deles, valem a pena ser destacados: Na dor é que, de fato, aprendemos a importância do quanto as pequenas coisas do dia a dia, como a liberdade de ir e vir, a riqueza de um abraço, são, na verdade, grandes e não se vendem nem se compram. O segundo está ancorado na importância da empatia. Esse vírus traz à tona o conceito de coletividade, de nos importarmos com o outro, afinal se eu não me previno, deixo minha família e entes queridos em situação de risco”, pontua.
Caso alguém tenha dificuldades de se conectar consigo mesmo, Ana indica a existência de vários grupos online de psicólogos, até mesmo gratuitos, que podem ser úteis no enfrentamento a esses dias difíceis. “Não tenha medo de pedir ajuda. Estamos temporariamente isolados fisicamente, apenas fisicamente, mas a ideia é nos mantermos conectados e, juntos, superarmos este desafio global, com resiliência, sabedoria e confiança”.
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