Dra. Andréa Ladislau, psicanalista
Nos últimos tempos, estamos sendo surpreendidos, quase todos os dias, por muitas demissões em massa, em diversas empresas. Até a Rede Globo, maior emissora de televisão do país, vem realizando diversos desligamentos de profissionais, artistas e jornalistas veteranos, com décadas de casa.
Muitos, inclusive, pegos de surpresa com o desligamento inusitado. Uma situação que, levanta reflexões sobre o futuro e sobre os efeitos do chamado luto demissional.
Afinal, independente, das causas relacionadas ao aspecto econômico financeiro na gestão destas empresas, existe o lado emocional de quem precisa encarar a dura realidade do afastamento abrupto. Uma coisa é certa: ser demitido não é fácil, mesmo quando você quer que isso aconteça.
Os motivos podem ser inúmeros: diminuição de custos, falta de desenvolvimento profissional, entre outros. Algumas pessoas se revoltam, buscam culpados e vilões para seu desligamento. Já outras omitem a frustração e dizem que era isso mesmo que queriam que acontecesse.
Porém, a demissão está psicologicamente associada aos dois maiores medos que o ser humano tem na vida: o medo do fracasso e o medo da rejeição, por isso é um processo delicado e os impactos podem ser maiores do que se imagina.
O sofrimento mental pode aumentar fazendo com que a estabilidade psíquica do sujeito seja afetada, podendo vir a sofrer de depressão, ansiedade, pânico, entre outros transtornos. Visto que, ser demitido, em muitos casos, leva o “desligado” para um processo de “cancelamento” que passa por fases similares ao do luto: isolamento, negação, pensamento distante, certa irritação e, por fim, a esperança do recomeço.
No luto demissional, em certo sentido, num estalar de dedos, o desligado “perde” pessoas queridas do seu convívio diário. Simplesmente fica orfão de centenas de pessoas, de uma só vez.
Apesar de sabermos que, todos nós ficaremos frustrados em algum momento da vida e que, nem sempre as coisas acontecem conforme gostaríamos, o que impacta emocionalmente, não são os eventos em si, mas a maneira como interpretamos e respondemos a estes eventos. .
Muitos são os efeitos emocionais de ser surpreendido pelo desemprego: raiva e revolta; tristeza e desamparo; frustração; sentimento de culpa, insegurança e medo; sensação de injustiça; negação; vergonha; sensação de estar perdido e confuso; sensação de cancelamento; elevação da ansiedade; medo do futuro; entre outros.
O ideal nestes momentos é, desacelerar a mente, colocar as ideias no lugar para enxergar a situação com clareza e racionalidade. Além disso, é preciso externar o sentimento de alguma forma, sem deixar que eles dominem ou sequestrem a razão.
Sem dúvida, o momento é desafiador, porém, se faz necessário não se deixar levar por questionamentos internos que minem a autoestima. Por mais difícil que seja lidar com esse mix de emoções, é importante manter o autocontrole e reconhecer seu próprio valor.
Enfim, seja qual for o motivo da demissão, ou de que forma ela se deu, é necessário trabalhar o controle das emoções, pois o fato de ficar “remoendo” internamente o ocorrido, pode ser tão ruim (ou até pior) do que expressar.
Lamentar não vai resolver ou apagar o fato em si. Além disso, para lidar com a ansiedade sem fim que, poderá aumentar após o episódio do desligamento, é importante se ocupar com atividades físicas, movimentar o corpo e a mente para liberar hormônios da “felicidade” que ajudarão a ativar uma sensação de tranquilidade com menos ânsia e desespero no decorrer dos dias.
Ou seja, mais importante que focar nos vilões, é compreender o que se está sentindo. Isso ajudará a lidar melhor com a situação e a passar de forma equilibrada pelo desafio do luto demissional.