Criada para celebrar os 25 anos de carreira da artista, a exposição reúne uma série de trabalhos novos como pinturas, desenhos e móbiles, com outros de períodos anteriores. Para constituir o acervo de “Desmanche – verbocorpopintura”, a curadoria apostou numa série de trabalhos recentes somados a outros que já podem ser considerados icônicos de Leonora Weissmann como seu autorretrato grávida que, apesar de não pertencer à fase mais recente, ainda é um trabalho inédito para o público. A exposição tem curadoria assinada pelo respeitado e premiado crítico, historiador da arte e professor Guilherme Bueno.
“Existe uma riqueza muito grande no trabalho de Leonora Weissmann, tanto técnica quanto criativa. Ela consegue passear com maestria por várias áreas, se dedicando ora aos retratos, ora paisagens e outras linguagens. Ela tem um interesse muito plural sobre o próprio ofício e isso traz inúmeras reflexões sobre as possibilidades da pintura no século XXI”, reflete o curador.
A ideia é demonstrar os diálogos, permeabilidades e a coesão presentes nas criações da artista, ressaltando suas inúmeras formas de cristalizar as memórias e reconfigurar o agora. Entre as obras que integram o acervo da mostra estão quatro linhas distintas, que podem ser analisadas como complementares, como os retratos, que a artista faz questão de manter ativos em seu portifólio uma vez que eles são objetos de inúmeras investigações; Retábulo, que ela denomina como uma espécie de oratório para as paisagens, revelando principalmente as montanhas; a série Erotismo, pinturas que revelam corpos nus e os Móbiles, que são pinturas suspensas. “Enquanto eu estava com meus filhos em casa durante o período mais crítico da pandemia eu não conseguia produzir como eu fazia antes porque tinha que me dividir entre os cuidados deles, aula online etc. Enquanto eles estavam brincando ou desenhando, eu comecei a desenhá-los sobre pequenas tábuas. Acabei gostando do resultado e fiz vários retratos deles assim. A partir disso, comecei a pintar crianças em suspensão, como se elas estivessem num pula-pula, reproduzindo na pintura apenas as silhuetas das crianças. Eu chamei este trabalho de “Páginas de um novo livro”. Refletindo sobre esse processo, eu analiso como uma reminiscência desse momento de liberdade e ao mesmo tempo de suspense”, define Leonora Weissmann.
“Estamos atravessando um período muito intenso e tenso da história mundial e principalmente no Brasil. E essa intensidade acabou de transformando em combustível para a minha criação. Ao invés de me fechar, de travar, eu acabei produzindo muito durante esse período de isolamento social”, revela Leonora Weissmann, que se desafiou a produzir um autorretrato por dia durante a pandemia, independente dos materiais utilizados.
Foi uma imersão muito grande dentro de um universo particular, resultado de uma mistura de sentimentos e emoções como medo, angústia, esperança, o luto e a conexão da pintura de retratos com a morte, tema que sempre esteve presente nos estudos e nas reflexões da artista. E por estar intrinsecamente relacionada com este universo e também com o cenário atual, a série de pinturas eróticas de pessoas reais atingiu uma proporção ainda mais latente, destacando a perenidade da vida e dos corpos.
A exposição apresenta um recorte bem expressivo desse período em que a artista se dedicou de forma voraz a sua produção, possibilitando explorar nichos diferentes dentro do seu próprio trabalho, alcançando resultados até então inovadores e diferentes de tudo o que ela já havia feito e apresentado ao público. Em função disso, a exposição é uma oportunidade para conhecer e se debruçar sobre universo criativo.
O livro “Estranho Mundo Próximo”
A exposição foi concebida em sinergia com a proposta do livro “Estranho Mundo Próximo”, um trabalho inteiramente dedicado à obra de Leonora Weissmann. A publicação, lançada pela Editora Barléu, reúne textos do crítico de arte e professor Doutor Agnaldo Farias faz um registro de mais de uma década da trajetória da artista. “Esse livro é de uma importância muito grande para minha carreira uma vez que ele é resultado de 4 anos de um intenso trabalho. É um recorte bastante expressivo da minha trajetória até aqui”, destaca Leonora.
O livro estará à venda exclusivamente na galeria durante todo o período da exposição. A obra abarca trabalhos que envolvem as imagens e arquivos da artista, familiares e amigos. Também retrata a artista e sua imagem, a intimidade como mulher, como mãe, artista e o cotidiano na arte.
“Cada vez que eu leio eu me surpreendo mais. É um texto que, além de ser muito generoso e afetivo com relação ao meu trabalho, demonstra que ele se debruçou com muito rigor sobre a minha pintura e meu processo criativo, apontando referências até eu desconhecia, o que contribui de forma significativa para contextualizar a minha obra. O Agnaldo Farias cita diversos artistas, trazendo muita informação nova. O mais interessante é que esta publicação é um documento que não se encerra. Como eu ainda pretendo produzir muito, ele é um olhar sobre o que está sendo feito. Ele fala de um passado que ainda está em construção, apontando para novos caminhos”, sintetiza a artista.
Sobre o curador Guilherme Bueno
Curador, crítico e historiador da arte. Doutor em Artes Visuais (História da Arte, 2005) pela UFRJ. Professor da Escola de Belas Artes da UFMG, tendo lecionado anteriormente no Instituto de Artes da UERJ, no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Atua como pesquisador no Programa de pós-graduação em arquitetura da UFRJ – PROARQ e como professor colaborador no Programa de Pós-Graduação em Artes da UERJ – PPGARTES. Dirigiu o MAC de Niterói e foi editor-chefe da revista Dasartes. Integrou como membro o Comitê de Indicação ao Prêmio PIPA nos anos de 2010 e 2013. Foi curador de diversas mostras sobre arte moderna e contemporânea brasileira no país e no exterior e colabora regularmente para revistas, catálogos e livros.
Serviço:
AM Galeria apresenta “Desmanche – verbocorpopintura”, de Leonora Weissmann
Até 30 de novembro
AM Galeria – Rua do Ouro, 136 – Serra
Entrada Franca
Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 19h e aos sábados, de 10h às 14h.
A Dupla Informação
Fábio Gomides
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