O imaginário nacional associa Santos à ideia de uma cidade que acolhe uma terceira idade passiva, ou seja, pessoas que adotaram o município como o lar para uma aposentadoria perfeita. Essa palavra, aliás, remete etimologicamente a voltar ao aposento, retirar-se. A qualidade de vida unida à quimera e somente a um descanso será discutida e desconstruída no 1º Festival Internacional Santista de Criatividade, Inovação e Sociedade – evento on-line gratuito, que acontece de 24 a 27 de setembro e contará com mais de 40 atividades. No painel Economia prateada: a revolução da longevidade, especialistas como Layla Vallias, cofundadora da consultoria Hype50+ e uma das coordenadoras da pesquisa Tsunami Prateado (maior estudo brasileiro sobre a Economia da Longevidade); Mórris Litvak, fundador da MaturiJobs – plataforma que conecta profissionais acima de 50 anos a empresas que buscam experiência e comprometimento –; e Luiz Fernando Garcia, fundador da NEXTT 49+ (hub de inovação que reunirá um espaço de coworking, mentorias e oportunidades de aceleração para empreendedores com mais de 49 anos), irão debater o novo perfil dos maduros. A mediação será de Lúcia Helena, cofundadora do Lab4D, laboratório de inovação em economia criativa e negócios sociais, em Santos.
No mundo, há 962 milhões de pessoas com mais de 60 anos; no meio do século XXI, a população sênior passará dos 2,1 bilhões, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil de 2050, os prateados serão mais de 68,1 milhões, enquanto as crianças e os adolescentes com até 14 anos serão 18,8 milhões, segundo a Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, em expectativas bastante conservadoras. Esse progresso demográfico – um verdadeiro telhado branco no mundo, que cresce 3% ao ano – é resultado do aumento da longevidade e da queda da taxa de natalidade, que deriva da redução da proporção de crianças e no aumento na população madura. Classificado como Tsunami Prateado, esse mar de gente deve ser visto como um desafio, mas também uma força positiva para a economia e como uma oportunidade social.
Segundo Layla Vallias, envelhecer é uma novidade. “Por mais que a frase possa remeter a uma contradição, estamos vivendo mais do que o esperado; encontrando desafios nunca enfrentados e mudando paradigmas sobre a idade. Entretanto, poucos querem falar sobre o tema. Estamos mais focados na beleza da juventude e quase nada preocupados com a riqueza que reside na sabedoria do tempo de vida. É necessário mudar o mindset e dar luz às pessoas que passaram dos 60, 70, 80, 90, 100, 110 anos. São elas que vão nos ensinar sobre os hábitos, desejos e o mercado emergente que está se formando para uma população cada vez mais longeva”, afirma, acrescentando que Santos tem sido o lar escolhido por vários profissionais maduros que estão empreendendo ou trabalhando de forma remota. “Não é mais necessário viver nas grandes cidades ou ser jovem para ser produtivo. Essa nova geração de prateados tem mostrado o poder da maturidade e a disposição para o empreendedorismo”, afirma a especialista.
Para Mariana Nobre, curadora do CriAtivar e fundadora do Atelier do Futuro, o tema da nova geração de maduros – sobretudo os que vivem em Santos – entrou no festival justamente para quebrar paradigmas e desconstruir a imagem de que valorizar a qualidade de vida significa ser inerte. “É possível ter uma rotina mais equilibrada, com tempo para si e para os seus, com possibilidades de fruição, aprendizado, criação e prazer sem ser alguém que ‘jogou a toalha’ ou desistiu da batalha da cidade grande. Esses são valores que têm amparo em uma perspectiva histórica, mas que não representam a realidade contemporânea. Os grandes centros urbanos sempre foram o espaço do negócio e da negação do ócio; entretanto, hoje, a visão sobre negócios e empreendedorismo está sendo reescrita a partir de prismas inovadores sobre o impacto e a sustentabilidade”, avalia, acrescentando que o preconceito etário deve ser combatido. “Essa passividade e inutilidade são repertórios antigos sobre o envelhecer. Falar sobre essas questões – do lugar físico ao simbólico – é oxigenar o tema; apresentar os novos olhares e as proposições sobre uma vida longeva. Por isso, o CriAtivar dedicará uma mesa ao assunto.
Investimento local
De acordo com o ranking Melhores Cidades para Fazer Negócios, conduzido pela empresa de consultoria Urban Systems, Santos ocupa a quinta colocação na pesquisa nacional que avalia os municípios mais promissores para realizar investimentos. Na edição de 2018, a cidade ocupava a 10ª posição entre os 317 municípios brasileiros, com mais de 100 mil habitantes. Infraestrutura, desenvolvimento econômico e social, capital humano e investimentos em políticas públicas foram alguns dos itens avaliados. Em outro mapeamento – Desafios da Gestão Municipal (DGM), da consultoria Macroplan –, a primeira colocação foi concedida pela excelência nas áreas de segurança, saneamento e sustentabilidade.
Segundo Denise Covas, uma das organizadoras do Festival Internacional Santista, esses resultados comprovam o grande potencial e a vocação de Santos de atrair mais investimentos, ou seja, por apresentar um ambiente de negócios muito propício. Em perspectiva de futuro, ela salienta que a cidade deve registrar influência de uma tendência chamada Hiperlocalismo. “Com o amadurecimento do home office, as diásporas de empresas estão saindo dos centros empresariais das grandes cidades do mundo. Na prática, os movimentos migratórios de profissionais autônomos – os nômades digitais que podem trabalhar de qualquer lugar – vão alterar o perfil dos moradores de Santos. São pessoas que querem adotar um novo estilo de vida sem abrir mão da carreira”, comenta.
Um ponto muito relevante da tendência de Hiperlocalismo reside no fato de que as diferenças devem ser vistas como uma oportunidade para gerar novas ideias e soluções por meio de diálogos transformadores travados entre mentalidades diferentes – em busca da descoberta de valores humanos comuns. “Há uma inclinação de que vilarejos históricos sejam revalorizados; outros, construídos do zero. Nesse contexto, o turismo local e os movimentos migratórios irão crescer, pois as pessoas estarão interessadas em criar conexões com valores culturais não hegemônicos ou um modo de vida não moldado pelos ímpetos das metrópoles”, analisa Mariana Nobre.
EIXOS DO CRIATIVAR
EIXO 1 | CIDADE CRIATIVA
_De uma economia criativa a uma cidade criativa: alternativas de desenvolvimento econômico.
_Negócios criativos e requalificação urbana.
_Entendendo os movimentos #beofficeless e #foracidadegrande: a diáspora dos criativos.
_A força da identidade local: hiperlocalismo e place branding.
_Centro: um polo criativo.
_Usinas criativas para um mundo pós-covid.
_Cidade criativa para além do empreendedorismo branco.
EIXO 2 | TECNOLOGIA, INOVAÇÃO, NEGÓCIOS E EMPREENDEDORISMO
_Canabusiness: a revolução cannábica.
_Para além dos unicórnios: cases de startups santistas.
_ Festivais de Inovação e Criatividade: ajudando a fomentar futuros
_Economia prateada: a revolução da longevidade.
_Desafios das mulheres no empreendedorismo.
_Empregabilidade e empreendedorismo trans.
EIXO 3 | FUTURO, SUSTENTABILIDADE, IMPACTO E CIDADANIA
_Agenda 2030: compromissos com o milênio, entendendo as ODS da ONU.
_Laboratórios cívicos: a imaginação coletiva.
_O poder do brincar: da saúde mental à transformação social.
_Renda básica universal: equidade para o futuro.
_Arqueologia do futuro: Santos, historicamente criativa.
_Dinheiro para um novo mundo: moedas sociais e novas visões de crédito.
_Liberte o futuro: a desigualdade global é hostil para as futuras gerações.
_ Afrofuturismo: um lúcido paradigma para o futuro.
_Design Fiction e Futures Thinkin
_O futuro do trabalho e o trabalho do futuro.
_A inovação está na natureza: olhares da agricultura urbana, da ecogastronomia e da biomimética.
_Mobilidade e inclusão.
_Financiando projetos: match de investidores, matchfunding e leis de incentivo.
EIXO 4 | CRIATIVIDADE, CULTURA E ARTE
_É possível ensinar criatividade?
__Ócio e tempo livre: de subversivos a revolucionários.
_Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na Moda.
_Resistentes e Inovadores: os livreiros no mundo dos algoritmos e dos e-books.
_Mercado da voz: você já pensou em usar a sua?
_Desafios da equidade na produção cultural.
_O movimento maker e a construção de novas realidades.
_Novos papéis dos influenciadores digitais.
_As reinações da gastronomia: como o que está no nosso prato revela o espírito do nosso tempo?
_A era da curadoria.
_Empreendendo na música.
_Como transformar Santos em um polo do audiovisual?
_Audiovisual expandindo: realidade virtual e aumentada, animação; games e video mapping.
_Cinema nacional: rumos e resistências.
AGENDA
Evento: CriAtivar – 1º Festival Internacional Santista de Criatividade, Inovação e Sociedade
Data: de 24 a 27 de setembro
Transmissão: redes sociais do CriAtivar (@festivalcriativar)
Organização: DCovas Projetos Culturais e Corporativos, LAB 4D e Zopp Criativa Cocuradoria: Atelier do Futuro
Realização: Governo do Estado de São Paulo | PROAC