“Prepare-se para ingressar num labirinto de labirintos, os labirintos construídos por Penna Prearo ao longo de 50 anos de carreira, desde sua progressiva saída de Itapevi, onde vivia, as idas e vindas a São Paulo, a metrópole cuja voracidade ele ousou enfrentar armado de câmeras fotográficas”. Assim começa o texto assinado pelo curador Agnaldo Farias e pelo cocurador e produtor da mostra Baixo Ribeiro.
De 30 de junho a 16 de outubro de 2022, o Sesc Bom Retiro recebe Penna Prearo – Labirintos revisitados. Inédita, a exposição conta com 49 imagens escolhidas a partir da produção mais recente do artista, que reconfigura radicalmente os objetos fotografados através do tratamento digital.
A mostra reúne parte da produção de Prearo, um trabalho de experimentação com recursos da fotografia, como a presença de grãos e efeitos como solarização e espelhamento. As narrativas compostas pelo fotógrafo se aproximam de fábulas que se passam em cenas oníricas e imaginárias, com referências artísticas que surgem do universo da pintura e da cinematografia.
Segundo os curadores, há décadas Penna Prearo quebrou o discutível pacto que impõe à imagem fotográfica o dever de capturar uma fração do mundo, o compromisso de ser transparente. “Passou a fazer da imagem fotográfica um bumerangue que bate no mundo para voltar repicando sobre si”.
Quebrar as imagens e submetê-las a um processo caleidoscópio ainda foi pouco para ele, ressaltam os curadores. “Prearo abandonou as pesadas câmeras convencionais e partiu para o celular, para o smartphone, rápido, portátil, profundamente eficaz, sobretudo quando se destina a produzir a matéria prima a ser trabalhada no computador. Ah, as delícias do universo digital, um território aberto para a pesquisa de acasos e equívocos”, completa a dupla e adverte: “não pense que os títulos das séries dão a chave de solução dos labirintos. Ao contrário, sua função é ampliar a dimensão problemática desse artífice de enigmas”.
Penna Prearo nasceu em 1949 em Mailasky, distrito do município de São Roque e foi criado nos arredores de São Paulo, em Itapevi. A partir de 1968, ano em que se muda para São Paulo, passa a frequentar estúdios e redações, onde conhece Mutantes, Zé Rodrix, Renato Teixeira entre outros artistas. Em 1972 recebeu sua primeira encomenda fotográfica: retratar o músico Tim Maia para uma capa de disco; em 1977 fez a foto de capa do álbum Elis, de Elis Regina. A proximidade com o universo musical tornou-se permanente e entre seus retratados estão artistas como Milton Nascimento, CPM22 e Música Ligeira. Prearo também é muito atuante no meio editorial, tendo colaborado com as mais diversas revistas, como Placar, Bizz, Trip, Bravo, Rank, Sem Número e Vogue, dentre muitas outras.
Por volta de 1984, a estética pela qual o artista Penna Prearo é reconhecido começa a ganhar forma com o surgimento das primeiras imagens de Transmutantes, uma das inúmeras e longas séries que passaria a desenvolver a partir de então. Entre 1990 e 1993, foi responsável pelo estúdio fotográfico do jornal Folha de S. Paulo.
Seus trabalhos autorais vêm sendo apresentados regularmente em exposições coletivas e individuais no Brasil e em outros países. Em 1999, com a série “São Todos Filhos de Deus”, Prearo recebe o Prêmio Aquisição do Banco J. P. Morgan, e passa a fazer parte da coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo e da Fototeca de Havana, em Cuba. Outra série dá nome a seu primeiro livro, “Jornada do alumbramento de Apollo” (Ed. Madalena), publicado em 2016.
Baixo Ribeiro, curador e urbanista é fundador da Galeria e Editora Choque Cultural. Atualmente assina a curadoria da exposição coletiva “Xilograffiti” que ocorre no Sesc Consolação, além dos seguintes projetos que se realizam atualmente em São Paulo; “Visão Periférica”, exposição do artista Rafael Silveira e do artista britânico Adam Neate.
Agnaldo Farias, crítico e curador de arte do cenário contemporâneo, Professor Doutor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Foi Curador Geral do Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, do Instituto Tomie Ohtake (2000/2012) e do MAMRJ (1998/2000). Curador de Exposições Temporárias do MACUSP (1990/1992). Em relação a Bienal de São Paulo, foi Curador Geral da 29a. Bienal de São Paulo (2010), da Representação Brasileira da 25a. Bienal de São Paulo (1992) e Curador Adjunto da 23a. Bienal de São Paulo (1996). Curador Internacional da 11a. Bienal de Cuenca, Equador (2011), do Pavilhão Brasileiro da 54a. edição da Bienal de Veneza (2011), e Curador Geral da 3a. Bienal de Coimbra, 2019. No começo de tudo, em 1972, foi “roadie” dos Novos Baianos, no álbum “Acabou Chorare”.