Está em curso uma transformação demográfica que afeta diretamente a relação humana com o trabalho e a forma como planejamos o futuro profissional: a extensão de vida. Pela primeira vez na história, cinco gerações estão trabalhando lado a lado; a presença de profissionais maduros no ambiente corporativo tem, inclusive, uma trajetória cada vez mais ascendente. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), homens e mulheres que chegam saudáveis aos sessenta anos, poderão estar fisicamente capazes de atuar profissionalmente até os 74 e 77 anos, respectivamente. A força de trabalho ativa em todo o mundo está em franco crescimento; a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que a proporção de pessoas com 55 anos ou mais no mercado de trabalho cresceu cerca de 10% nas últimas décadas.
A perspectiva é que antes de 2030, os seniores alcancem uma taxa de participação na força de trabalho global mais alta do que a média entre toda a população com idade ativa. Essas são algumas das conclusões do TrendBook Pessoas, primeiro eixo do projeto FDC Longevidade, que traz um recorte sobre a distribuição etária e os novos capítulos da vida profissional. O link para o download do mapeamento:https://materiais.hype50mais.com.br/fdc-longevidade-pessoas
Em um cenário de profunda mudança, em certa medida acelerada pela pandemia da covid-19, o FDC Longevidade – desenvolvido pela Fundação Dom Cabral se apresenta como uma plataforma de gestão pioneira na geração e disseminação de conhecimento qualificado e relevante, destinado a promover uma visão estratégica da temática no campo da educação executiva. O primeiro desdobramento da iniciativa – que conta com apoio técnico da Hype50+ e patrocínio da Unimed-BH – reúne conteúdos exclusivos e cases inspiradores, que terão como desdobramento eventos mobilizadores de um ecossistema com real potencial para impulsionar a gestão em longevidade no Brasil. O TrendBook Pessoas, que integra o primeiro eixo do FDC Longevidade – conduzido por colaboradores e professores da FDC, especialistas da Hype50+ e profissionais que são referência nacional e internacional em Economia Prateada traz análises e informações sobre o impacto da longevidade na vida das pessoas e tendências do futuro.
Segundo Antonio Batista da Silva Junior, presidente executivo da Fundação Dom Cabral, o envelhecimento populacional foi identificado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das quatro megatendências para o século XXI, indicando que o Brasil deve ocupar a sexta posição do ranking, em 2050, dos países com maior número de pessoas com mais de 60 anos. “A Revolução da Longevidade – considerada uma das maiores conquistas da humanidade – traz esperança de tempos melhores ao apresentar transformações socioeconômicas e médicas; em contrapartida, o momento carrega desafios de diferentes tipos para a sociedade. Devemos preparar as escolas, os negócios, as organizações e, sobretudo, as pessoas para o aumento da expectativa de vida. É uma tarefa dos que buscam a construção de uma nação economicamente próspera e socialmente justa e inclusiva”, afirma.
O presidente executivo acrescenta que, como uma das principais escolas de negócios do Brasil, a FDC tem o compromisso ético de contribuir com o desenvolvimento sustentável da sociedade, portanto, tem investido esforços para jogar luz sobre a temática da longevidade. “Temos gerado e disseminado conhecimento relevante, articulando atores e saberes para impulsionar a dinâmica social e econômica diante desse fenômeno demográfico. O projeto FDC Longevidade expressa a nossa convicção de que essa é a hora de ampliar as reflexões e as práticas organizacionais e individuais para esse fenômeno mundial”, revela.
Na análise de Samuel Flam, diretor-presidente da Unimed-BH, embora tenha se tornado um costume dizer que o mundo mudou e que a vida não é mais como antes, esse discurso é automático, uma narrativa que carece de reflexão sobre as reais mudanças. A forma como vivemos, trabalhamos, viajamos, nos comunicamos, nos relacionamos, lidamos como as evoluções tecnológicas e forma como buscamos experiências culturais e estéticas tem se alterado de maneira muito acelerada – sobretudo nesse momento de pandemia. Mas, a principal transformação que estamos vivenciando é a demográfica.
“A longevidade chegou para ressignificar a forma como vemos a realidade. Hoje, não estamos apenas vivendo mais, como estamos vivendo com qualidade, mantendo a produtividade e cultivando hábitos saudáveis. Como uma empresa de saúde, a Unimed-Belo Horizonte está atenta a esse cenário e vem contribuindo, há quase 50 anos, para promover mais saúde e qualidade de vida para a população com mais de 60 anos. Nossa vocação e propósito sempre foi cuidar das pessoas. Por isso, o envolvimento e contribuição nesse projeto que tem objetivo de colocar a longevidade em perspectiva. Conhecer melhor essa geração – da qual faço parte – é fundamental para que possamos, dentro do que é possível, projetar o amanhã. Estamos certos de que esta pesquisa traduz o espírito de nosso tempo e servirá como importante insumo para o futuro”, finaliza.
DESTAQUES DO RECORTE
A EXTENSÃO DA VIDA E O NOVO MERCADO DE TRABALHO
O comportamento da distribuição etária da população em idade ativa e da força de trabalho no mundo revela muito sobre a relação entre longevidade produtividade. Nas últimas três décadas, a proporção de pessoas com 55 anos ou mais nessas duas variáveis aumentou cerca de 10%; em 2030, a perspectiva é que esse crescimento seja ainda maior. Em 1990, cerca de 2,7% da força de trabalho estava na casa dos 65 anos; em 2000 esse número subiu para 3,2%; em 2010 para 3,3%; em 2030 deve ser de 5,3% da população mundial. Em contrapartida, na faixa etária de 15 a 24 anos houve decréscimo: 25,1% (1990); 20,6% (2000); 17,9% (2010); 13,6% (projeção para 2030).
O Brasil segue o padrão mundial de envelhecimento populacional. A previsão é que até 2031 conte com mais de 43 milhões de idosos, segundo o Ministério da Saúde. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que desde a década de 1990 a população economicamente ativa tem aumentado constantemente; em 2040, a projeção é que cerca de 57% da população nacional em idade economicamente ativa tenha mais de 45 anos. “Entretanto, há um caminho a ser percorrido com mais efetividade pelas empresas que, hoje, não têm iniciativas consolidadas relativas à diversidade etária. Esse contexto mostra o quando o país está perdendo com a falta de trabalhadores seniores em seus quadros de profissionais. Diante das novas tecnologias de automação, habilidades como inteligência emocional e criatividade despontam como um diferencial a ser conquistado; em especial, com a combinação de equipes multigeracionais”, analisa Michelle Queiroz, professora associada da FDC e coordenadora do FDC Longevidade.
Há uma situação crítica que precisa ser endereçada: o aumento dos nem-nem maduros. De acordo com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em 2019, apesar de sete em cada 10 seniores brasileiros estarem aposentados, somente 21% exercem alguma atividade remunerada para arcar com as despesas. Por outro lado, dentro dos domicílios onde vivem os prateados, existe uma parcela significativa de adultos que não trabalha. “Hoje têm crescido os nem-nem maduros, homens entre 50 e 64 anos que não trabalham e não são aposentados. De acordo com dados do Ipea, 10,5% dos homens nessa faixa etária estão nessa situação no país”, afirma Layla Vallias, especialista em Economia Prateada, cofundadora da Hype50+ e uma das coordenadoras do estudo. A especialista aponta que há uma dimensão a ser considerada: a subjetiva. “Gostar de trabalhar e de ser produtivo não é uma exclusividade dos millennials. Para os maduros, continuar trabalhando é uma opção natural diante da conquista da longevidade”, afirma.
O aumento da participação de pessoas com mais de 50 anos na economia do país, especialmente no mercado de trabalho, já é uma realidade. Mas, ainda há muitos preconceitos a serem superados. A pirâmide etária está se invertendo no Brasil – país que envelhece mais rápido do que outros como os Estados Unidos e França – o que fará com que as equipes de trabalho do futuro sejam formadas por pessoas de 20 até 70 anos, de acordo com pesquisa realizada pela Maturi em 2020. Com isso, os conflitos geracionais no ambiente corporativo devem ser cada vez maiores, de acordo com a análise de Juliana Seidl, doutora em Psicologia Social e do Trabalho.
Uma visão de futuro é que os trabalhadores maduros se dão melhor com a tendência da Gig Economy – economia do bico, na qual empregos temporários e flexíveis são comuns; nesse contexto, as empresas costumam contratar autônomos e freelancers em vez de funcionários em tempo integral. Na Gig Economy, os profissionais são mais empreendedores do que trabalhadores tradicionais. “Quando pensamos no aumento de consumidores seniores, pensamos nas oportunidades para trabalhadores prateados. O raciocínio pode não ser mais tão rápido, mas o jeito de atender é diferenciado. Maduros atendendo clientes prateados é uma tendência bem consistente, sobretudo porque entendem as dores, as necessidades e predileções já que vivenciam a mesma etapa da vida”, avalia a futurista Mariana Fonseca, uma das coordenadoras do TrendBook.
Atrair e reter talentos da maturidade será um desafio para as empresas no futuro, sobretudo os que já trabalharam na organização. Algumas empresas já despertaram para a tendências e têm apostado na transformação do desafio da longevidade e da diversidade etária em oportunidade de aumentar a eficiência produtiva e valor da marca. Um dos cases destacados no TrendBook é da Gol – que criou o programa Experiência na Bagagem, voltado para atrair talentos maduros. A ideia é recrutar profissionais com mais de 50 anos, especialmente para funções de relacionamento com clientes em aeroportos ou na Central de Atendimento. Lançado em 2017, hoje 13% do total de funcionários é formado pelo público 60+. “A oportunidade se torna atrativa pela combinação de dois fatores: horários flexíveis de trabalho – de 4 a 6 horas diárias – e a possibilidade de trabalho remoto”, afirma Layla Vallias.
CARREIRAS
O TrendBook traz a lista de oito profissionais que, no futuro, irão gerenciar a longevidade e diversidade etária nas empresas. Na prática, o aumento na expectativa de vida da população mundial – o grande telhado branco do mundo – apresenta oportunidades profissionais para diferentes gerações.
Segundo a futurista Mariana Fonseca, comentando o artigo de Marcia Tavares, CEO da WeAge – startup focada no desenvolvimento de competências de gestão da longevidade e diversidade etária da força de trabalho – as profissões serão: age adviser (profissional que irá conciliar desacordos entre grupos de diferentes idades dentro das empresas, promovendo a colaboração intergeracional); chief health officer (responsável por programas para cuidados com a saúde e reavaliação do sistema de seguros da empresa); chief innovation officer (profissional que irá interagir com os funcionários em diferentes áreas da empresa para pesquisar, projetar e ampliar as inovações, considerando as demandas e oportunidades da longevidade e da diversidade etária dos colaboradores); conselheiro de aposentadoria (profissional responsável por ajudar os colaboradores a planejar a aposentadoria, considerando a perspectiva de vida e de carreira mais linga, ou seja, preparando os colaboradores para gerenciarem os recursos para uma vida mais longa e, possivelmente, permanecerem ativos no mercado de trabalho após a aposentadoria); consultor em gestão da longevidade e diversidade etária (oferece soluções que vão desde o diagnóstico até o suporte para o desenvolvimento de pessoas e empresas, apontando as estratégias e práticas mais adequadas aos desafios socioprodutivos no contexto da economia da longevidade); coordenador de desenvolvimento da força de trabalho e educação continuada (responsável por gerenciar programas para ajudar funcionários qualificados, de todas as idades, a atingir níveis avançados em suas áreas de especialização); especialista em gestão da longevidade e diversidade etária (responsável por compreender o impacto da longevidade e da diversidade etária para o negócio por promover essa visão para todas as áreas da empresa; também atuará monitorando práticas e políticas de gestão da longevidade e diversidade etária da força de trabalho); e historiador corporativo (profissional responsável por resgatar projetos, programas, problemas, soluções e resultados da empresa para garantir a preservação do conhecimento e da memória institucional da empresa frente ao turnover dos colaboradores jovens e a aposentadoria dos mais velhos).
PERFIS DOS PROFISSIONAIS 50+
A maturidade é uma fase muito diversa, pois – na velhice –, o ser humano se torna resultado de tudo que vivenciou e teve a oportunidade de experimentar ao longo da vida. A equipe da Hype50+, para o TrendBook Pessoas, conversou com especialistas do tema longevidade como Márcia Tavares, fundadora do WeAge; Fran Winandy, sócia do Acalântis Services; e Mórris Litvak, fundador da Maturi para identificar padrões comportamentais comuns que podem ser divididos nos quatro perfis de profissionais maduros.
O consultor: são pessoas que tiveram uma carreira ligada ao conhecimento, professores, especialistas, acadêmicos ou líderes que, após os 50 anos, decidiram abrir sua própria consultoria com a vontade de ter mais flexibilidade de horário, poder se dedicar a família, ter espaço na agenda para buscar outros interesses e se aventurar em novas experiências.
O empreendedor: os que precisam continuar trabalhando e gerando renda ou querem se manter ativos, criando e se desafiando; gostam de trocar ideias, conhecer pessoas novas, são curiosos e dedicados a aprender ferramentas tecnológicas e novos formatos de trabalho; são os reis e as rainhas da gig economy – se não por prazer, por necessidade.
O inconformado: pessoas que se ressentem muito pela falta de espaço no mercado de trabalho para profissionais maduros e frequentemente relembram os tempos do passado, quando eram valorizados e tinham uma carreira que gostavam e que pagava as contas; se fixam no sonho do CLT e acabam sendo mais fechados para novos formatos de trabalho, novos aprendizados e diferentes fontes de renda.
O mentor: pessoas que, em geral, já aposentados, dedicam-se a contribuir para as causas que acreditam, muitas vezes de forma voluntária; são comprometidos e sérios nas atividades que exercem – de encontros religiosos, projetos sociais a mentorias com empreendedores e jovens, alguns até se aventuram como investidores-anjo em startups, sendo várias e diversas as oportunidades de give back.