Desde o último dia 03 de julho, a população de Lisboa já pode apreciar as obras do MURO LX_2021. “O muro que nos (re)une” é o tema do festival este ano que se propõs a ser uma celebração da vida em sociedade pós isolamento. O único artista brasileiro convidado do festival português é o pintor mineiro Thiago Mazza. Em seu mural de 220m2 Thiago criou um verdadeiro Jardim Urbano só com flores locais.
Mazza conta que quando foi convidado pela Câmara Municipal de Lisboa para pintar no festival MURO LX, o principal festival de arte urbana da capital portuguesa, logo pensou em fazer suas plantas tropicais. Mas sua imersão na região de Ericeira por causa da quarentena obrigatória o fez mudar de ideia. Ali teve contato com a natureza da região, subiu montanhas e desceu ao mar catalogando todas as plantas que achava interessante, que despertavam a sua atenção seja pela cor ou pela forma. Por isso este mural foi um dos mais desafiadores da sua carreira, ao invés do verde predominante com cores vivas intercalando como é de costume nas plantas tropicais que pinta, em Portugal encontrou algo diferente, as cores são bem mais contrastantes, os campos se enchem de pontos amarelos, roxos, vermelhos.
Acostumado a pintar folhagens densas, flores rígidas e grandes, o artista conta que se perdeu na quantidade de pétalas, espinhos e luzes que se formavam em uma única flor do campo. O verde tão presente em suas composições, ali no campo português é tímido e se mescla com o dourado e amarelo, portanto um mero coadjuvante que sustenta em seu topo uma explosão de cores e formas que são enaltecidas pela linda luz amarela do fim de tarde em Portugal. Para o artista, de todas as plantas escolhidas uma é especial, a alcachofra selvagem, também conhecida como Cardo. Ela é representada no inicio e no fim do mural, em dois estágios de sua vida. Além da forma cheia de espinhos que cria incríveis contrastes de luz e sombra, essa planta tem uma história muito interessante. Manda a tradição que se queime a sua flor durante o Solstício de Verão, pois uma vez mergulhada em água fria voltará a florir. Das cinzas às cinzas, a alcachofra manifesta em si o eterno retorno, a negação da morte, a ressurreição.
Thiago Mazza é conhecido na cena mundial de arte urbana contemporânea por seu domínio na representação da fauna e da flora. Seu assunto atual de estudos são plantas tropicais, sua estrutura exuberante e densa folhagem. Inspirado no artista e paisagista brasileiro Burle Marx, Mazza cria verdadeiros jardins urbanos com plantas tropicais. A decisão de pintar a flora portuguesa no lugar das tropicais busca estabelecer um diálogo com o entorno e com o público e mostrar para a população local que a natureza da região é tão exuberante como qualquer outra. “Busco despertar sentidos e levar a natureza até as pessoas”, afirma Thiago. “A minha intenção é que as pessoas valorizem a flora nativa e vejam como são bonitas as flores que crescem espontaneamente no campo, num lote vago ou até num quintal abandonado.”
Neste momento histórico de retomada das atividades e conscientização do impacto da humanidade sobre o meio ambiente e de necessária preservação da natureza, a imagem de sublime beleza natural que Mazza pinta dialoga neste contexto em que a arte pública pode e deve se transformar em conteúdo e estética no espaço urbano. O artista constrói através da sua pintura jardins no concreto, afetando a nossa perspectiva sobre a relação natureza e cidade. Seu processo criativo é sempre criar composições reais com plantas para levá-las aos muros de forma a apresentar um jardim que transcende a ação do tempo.
O festival MURO terminou no dia 11 de julho deixando um legado de pinturas e intervenções urbanas por três zonas do Parque das Nações, exposições e instalações na Gare do Oriente e no Centro Vasco da Gama. Mais informações no site www.festivalmuro.pt .
O festival é organizado pelo Departamento de Patrimônio Cultural da Câmara Municipal de Lisboa.