De 2018 até hoje, saltou de 59,3 milhões para 70,5 milhões a quantidade de brasileiros inadimplentes, de acordo com o Mapa da Inadimplência divulgado pelo Serasa. É o maior índice de endividados da série histórica. Dentre as principais dívidas apontadas estão cartão de crédito, com 31,6%, contas básicas (21,7%) e varejo com 11,2%. Assim como o levantamento do Serasa mostra o número de inadimplentes, uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Lojistas (CNDL) indica os principais motivos para os brasileiros deixarem de pagar suas dívidas.
O levantamento relaciona que 18% dos brasileiros justificaram diminuição de renda. 17% imprevistos com problemas de saúde, morte na família ou despesas com casa ou carro. 13% alegam ter ficado inadimplentes por conta da alta dos preços e 12% falam em descontrole financeiro. A perda de emprego ou alguém da família aparece com 14%. Para quem está dentro desta estatística, a mentora financeira Silvia Machado faz um alerta: “Para fugir da inadimplência não há milagre. Há planejamento, mudança de hábito e muito controle para não gastar mais do que ganha”.
“Independentemente do motivo que gerou a inadimplência para sair dela será preciso reavaliar hábitos. Boa parte dos débitos com cartão crédito, por exemplo, é motivada pelo descontrole. Gastar mais do que ganha e na hora de pagar a fatura, o salário não dá para quitar o débito”, afirma.
O planejamento, segundo a mentora financeira, não é somente planilhar todas as despesas mensais. “ Vejo muitas pessoas fazendo planilhas, montando as despesas dos últimos meses e ficam apenas mais agoniadas e sem opções para resolver. Sugiro um outro formato de planejamento. Liste os itens essenciais: moradia, saúde, educação, alimentação. Circule o quanto você realmente precisa para estas despesas e analise se ainda tem alguma “gordura”. Depois liste os demais itens que são aqueles que eu chamo de estilo de vida. Pequenos luxos ou confortos que podemos abrir mão ou reduzir custos. Destaque o quanto ganha e reduza tudo o que puder reduzir para uma possível sobra e negociação das dívidas”.
Silvia reforça que em vez de buscar quitar os débitos com juros mais altos, a pessoa tem de pagar primeiro dívidas que têm bens como garantia. “O que eu mais vejo é a sugestão de que comece a negociar suas dívidas por aquelas com juros mais altos, como cartão de crédito e cheque especial. Eu, particularmente, acho que estas devem ser as últimas, porque justamente por terem os juros tão altos é que elas têm o maior poder de negociação. Eu começaria por aquelas que tem algum bem de garantia, porque se não negociar logo você corre o risco não só de perder o dinheiro que já pagou como também perder o bem. Eu seguiria esta ordem: financiamentos ou empréstimos com garantia, parentes e amigos e por último as de juros mais altos”.
Dicas para o planejamento financeiro e pagamento de dívidas
Para quem está endividado, a melhor forma é negociar. Mas cuidado: seja realista, discuta o valor da parcela e analise se terá condições de pagá-la. Tenha a total ciência de que está assumindo uma parcela que caiba no bolso, talvez seja mais longa do que gostaria, mas desta forma, vai conseguir honrá-la.
Para aquelas pessoas que sempre tiveram a vida organizada, mas passaram por momento de turbulência – o que aconteceu com muita gente no período da pandemia – teve queda de receita ou perda de emprego: Essas pessoas já sabem lidar com as finanças. Organizem no papel as despesas, o valor que dá para assumir num financiamento e negociem suas dívidas. Investir também é uma boa opção para aqueles que têm uma sobra, mas não o suficiente para uma negociação de dívida. Assim terão um rendimento num futuro para ter algo a oferecer na hora de negociar os débitos.
Gaste menos do que ganhe, não tenha medo de rever seu estilo de vida. Não adianta viver acima da sua situação e perder o sono. Não tente parecer o que não é. Reveja sempre seu estilo de vida, se continua condizente. E o mais importante, não acredite em tudo o que você vê.
Buscar renda extra sem ter feito a lição de casa de enxugar as despesas não resolverá o problema. Porque a pessoa ganha mais, mas também tem o hábito de gastar mais.