Diego Fischer é CEO da Carupi, startup de tecnologia que facilita o trâmite de compra e venda de automóveis.
A economia em geral sofreu um impacto devastador com a pandemia da Covid-19. No ano de 2020, além do baque nos setores de serviços e comércio em decorrência das medidas restritivas, a indústria em geral foi fortemente impactada. Mesmo em 2021 as incertezas se mantêm quase tão prevalentes quanto no ano anterior.
No setor automotivo, após a queda colossal de vendas de veículos em março do ano passado, o volume de vendas do segmento vem gradualmente se recuperando, mas bastante carregado pelo setor de seminovos.
A luta de montadoras e concessionárias por se caracterizarem como serviço essencial foi travada com apelo (mesmo que indireto) à opinião pública, mostrando as consequências que a paralisação do setor teria ao nível de emprego, mas, apesar de um sucesso momentâneo em relação às concessionárias, o setor não se sustentou.
Algumas marcas tiveram que aprofundar a estratégia de administração de crise. Disso vieram mudanças drásticas em produtos ofertados e encerramento permanente de produção, como a Ford que acelerou o plano de encerramento da produção no Brasil e direcionou a produção em um portfólio menor de carros e a Mercedes que fechou em 2020 a última planta que montava veículos leves no país. Essas marcas se mantêm focadas em tranquilizar o público, garantindo que a infraestrutura de manutenção e produção de peças continue inalterada.
Hoje temos diversas montadoras (GM, Honda, Toyota, Hyundai) com suas produções paralisadas, apesar de não haver indicação de que existam planos para encerramento da produção no país. As marcas continuam apostando no Brasil, engajando seus consumidores e estimulando as encomendas de veículos para quando as produções forem retomadas.
Um movimento que foi alavancado na conjuntura de novo normal foi a comunicação empresarial focada em operações. Honda, Chevrolet e Cherry apostaram na transparência pública sobre ações de prevenção de disseminação do vírus, além de campanhas de demonstração de seus novos serviços criados para o período de pandemia.
Seguindo o comportamento normal de bens de consumo de luxo, as marcas de supercarros tiveram um resultado diferente durante a pandemia, pelo menos fora do Brasil: crescimento agressivo. Marcas como Ferrari, Porsche, Lamborghini, Bentley e afins, reconhecer e se solidarizar com as vítimas da pandemia fez parte, mas garantir a perpetuidade de seus produtos como símbolos de status e sucesso se manteve como objetivo da estratégia de comunicação.
As mudanças resultantes da adaptação estratégica à pandemia, como facilidade em comprar carros diretamente da montadora sem sair de casa, desburocratização do setor logístico e estímulo criativo para executivos pensarem fora da caixa, aliadas a um aumento relevante da participação da crescente economia chinesa no mercado consumidor desses produtos, ocasionaram esse efeito positivo da pandemia para essa faixa do mercado automotivo mundial.
Como luz no fim do túnel para as marcas de carros, a pandemia trouxe uma variável psicológica importante para a perspectiva de recuperação da economia: a mudança de comportamento. Muitas pessoas realinharam seus planos, tornando-os a curto e médio prazo. Uma pesquisa realizada pela Bentley apontou que a decisão de seus clientes em trocar investimentos de longo prazo por gastos com melhoria da qualidade de vida hoje foi um dos fatores relevantes na hora de decidirem pela compra de um carro novo, e essa mudança será parte integral da recuperação econômica do setor automotivo pós-pandemia.