Produtores culturais e de eventos, reunidos, online, analisaram as medidas publicadas pelos governos estadual e municipal com objetivo de mitigar os danos causados ao setor, consequência da pandemia do Coronavírus.
Apesar de ambos reconhecerem a gravidade da situação, uma vez que se fez necessário o fechamento de casas de espetáculo, espaços de eventos, museus, cinemas, teatros e outros locais de aglomeração de pessoas em ambientes para eventos abertos (parques, praças e ruas), tais medidas foram consideradas insuficientes, segundo os produtores locais.
Responsável por 2% do PIB brasileiro, o setor cultural, incluindo os eventos, emprega 5,2 milhões de trabalhadores. Segundo pesquisa realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas – IPEAD, da UFMG, dados de 2019, apenas um player desse segmento, o Mineirão, realizou 251 eventos no ano, que gerou um impacto imediato na economia da cidade de R$ 660 milhões, sendo R$ 487 mi provenientes de jogos e R$ 173 mi de eventos diversos como shows, feiras etc. Outra pesquisa, realizada entre os produtores de eventos de Belo Horizonte, aponta que até o momento já foram cancelados 978 eventos de diversos portes e adiados outros 1.250, em função das proibições impostas pela pandemia, e que geraria uma receita de R$ 222 milhões. A previsão é que 47,2 mil postos de trabalho, entre diretos e indiretos, deixem de ser criados, até que o País volte à normalidade. Os prejuízos calculados para o setor foram estimados em R$ 200 milhões.
Segundo Kuru Lima, sócio proprietário da Cria! Cultura, “os caixas das empresas estão zerados, não há previsão de receita, mas as responsabilidades e contas continuam existindo. Os salários de funcionários terão que ser pagos (ou possíveis rescisões), assim como os respectivos impostos, além de outras despesas fixas como aluguel, água, luz, comunicação, serviços de manutenção etc. Se nada for efetivamente feito, o desemprego no Brasil poderá se agravar, elevando em muito os já inaceitáveis 12 milhões de pessoas. Nesse caso, todos os nossos esforços estão concentrados para impedir que essa tragédia se concretize, sobretudo no setor que mais cresce no mundo, as indústrias criativas, em especial do entretenimento”.
Kuru Lima disse ainda que “é oportuno lembrar que foi um evento que salvou Blumenau, em Santa Catarina, após a grande enchente de 1983 que, durante 32 dias ininterruptos, arrasou a cidade, causando mortes, destruição e prejuízos incomensuráveis. Para levantar o astral da população, que viveu dias de terror, e recuperar a economia da cidade, agentes do setor da cultura e do turismo, em conjunto com a prefeitura e a comunidade alemã local, decidiram organizar uma grande festa. Assim nasceu a versão brasileira da Oktoberfest, em 1984. A festa não só levantou o astral e o moral dos moradores, como ajudou a reerguer a economia da cidade e se tornou um dos eventos mais concorridos do calendário brasileiro. A média de visitantes nos últimos anos, vindos de toda a parte do País e do exterior, é de 500 mil pessoas que movimentam, anualmente, outros 52 segmentos econômicos do município. Mais do que nunca – e no momento mais delicado e incerto da vida nacional -, devemos unir nossas forças para que possamos sair dessa situação o mais rápido possível e voltarmos à normalidade.
Desde o primeiro momento, a atividade cultural foi a primeira a ser paralisada. É de se esperar que o poder público dê uma atenção especial à sua retomada, tão logo as autoridades de saúde sinalizem esta possibilidade. A cidade de Belo Horizonte fez um tremendo esforço para se posicionar nacionalmente como um polo turístico e cultural e não pode, do dia para a noite, ver toda a sua inteligência e quadros técnicos serem desmantelados por esta gravíssima pandemia. Nós, os empresários do setor de eventos, estamos prontos a dar a nossa contribuição, mas precisamos da mão estendida do poder público para ajudar no planejamento desta retomada, para que a nossa querida capital volte mais forte e mais pujante após o conturbado momento que estamos vivendo”, completou.