Neste domingo, dia 4 de outubro, a partir das 16h horas, acontece a segunda edição do evento beneficente virtual “Live #FicaFaroeste”. Serão 2 horas de transmissão ao vivo com shows das cantoras Juçara Marçal e Tika, o artista plástico Renoir pintando um quadro ao vivo e o diretor da companhia, o paraense Paulo Faria, preparando um Caruru que será distribuído às pessoas em situação de vulnerabilidade social da Cracolândia. No comando das apresentações teremos a presença dos atores Mariana Melgaço e Pascoal da Conceição.
Esta edição ainda tem como tema a celebração o dia de Cosme e Damião, com a distribuição de doces para as crianças da chamada “Favelinha da Cracolândia”, e também o dia de São Francisco de Assis, fornecendo alimentação aos animais de estimação da população em situação de rua.
A realização da live, idealizada e produzida por voluntários da cena artística e política em caráter de urgência, tem como objetivo a arrecadação de recursos financeiros para evitar o despejo do teatro da Cia. Pessoal do Faroeste.
Vaquinhas garantiram o prazo para a solução
Assim que recebeu o aviso de despejo, voluntários deram início a primeira vaquinha online via portal Abacashi que arrecadou R$ 12 mil. Este dinheiro foi utilizado para um depósito em juízo comprovando o interesse da companhia em negociar o pagamento dos aluguéis atrasados. Com o estímulo da última live, realizada no dia 8 de setembro, foram arrecadados R$ 7 mil.
Ação de despejo
Durante toda a pandemia do Corona vírus, a movimentação no teatro da Cia. Pessoal do Faroeste tem sido de famílias em busca de ajuda da campanha #FomeZeroLuz. Iniciada por Paulo Faria, diretor e fundador do espaço, a ação de solidariedade têm colocado alimento e itens de higiene nas casas do entorno da Cracolândia. No entanto, no dia 12 de agosto, o espaço recebeu uma visita diferente: um oficial de justiça que tinha em mãos um aviso de despejo e o prazo de 15 dias para desocuparem o imóvel, ação que teve início efetivamente de desocupação nos dias 2 e 3 de setembro até o trabalho ser interrompido pela petição intermediada pelo gabinete de Eduardo Suplicy.
Dívida de R$ 200 mil
O diretor conta que, este ano, ainda não conseguiram acesso ao fomento da prefeitura e com a paralisação da programação, o problema apenas cresceu e a dívida acumulada com aluguéis atrasados chega a R$ 200 mil. “A Cia vive exclusivamente da Lei de Fomento ao Teatro, e há um ano está sem patrocínio. Nosso espaço é pequeno e todos os espetáculos têm como bilheteria o sistema ‘pague quanto puder’. Em março, reestreamos a peça ‘O Assassinato do Presidente’ que, devido a recomendação de isolamento social, teve que ser interrompida depois de apenas duas apresentações”.
Da quarentena à mudança definitiva para dentro do teatro
Assim que teve início a recomendação do isolamento social, o diretor da Cia. Pessoal do Faroeste tomou a decisão de cumprir sua quarentena dentro do teatro. Seu propósito foi o de acompanhar de perto as medidas de acolhimento que seriam tomadas na região da Luz. Assim que identificou que as famílias em situação de vulnerabilidade social estavam totalmente abandonadas, deu início por conta própria a uma ação de solidariedade que até hoje distribui cestas básicas.
O que Paulo não imaginava é que a experiência de viver dentro do teatro caminhava para se tornar definitiva. Alguns dias antes do aviso de despejo do teatro, ele recebera o mesmo aviso em seu próprio apartamento, no bairro da Santa Efigênia, a algumas quadras da sede da companhia e da Cracolândia. “Eu vivo do teatro, e assim como a própria instituição Cia Faroeste está sem recursos, o mesmo se reflete na minha situação. Tentei negociar com o proprietário de todas as formas, mas não chegamos a um acordo que eu pudesse sustentar. Eu e minhas cachorras nos mudamos para dentro do teatro, adaptei um dos andares para moradia”, conta.
#FomeZeroLuz
A campanha “FomeZeroLuz” tem como missão erradicar a fome na região, que tem suas ruas, pensões e cortiços totalmente ocupados por famílias em total vulnerabilidade, principalmente em um momento como este. “Basta acompanhar a imprensa e as redes sociais que é possível perceber como a situação fez aflorar o egoísmo e a intolerância em uma grande parcela da população. Logo o Brasil que tem uma dívida enorme, escandalosa, com a pobreza e o racismo, segue, descaradamente, fazendo jus a essa história tão triste e revoltante”, diz Paulo Faria, idealizador da ação e que já tem um histórico de trabalhos sociais na região onde, propositalmente, fica a sede de seu grupo de teatro.
“Estão distribuindo cestas básicas no teatro”, correu a notícia por todo o entorno e, em pouco tempo, já são mais de mil famílias cadastradas, cerca de quatro a cinco mil pessoas, que estão colocando alimento em suas mesas graças a companhia. Para se ter algum controle de que as doações seguiriam realmente para o seu propósito, criou-se a regra de que apenas as mulheres poderiam retirar os mantimentos (com algumas exceções analisadas caso a caso). Moradoras de rua, prostitutas, travestis e viciadas que, antes de qualquer rótulo, são em sua grande maioria mães.
A campanha foi ganhando apoio enquanto Paulo divulgava cada passo da ação, e seus relatos quase como um diário, nas redes sociais. “Foi por meio da internet que as pessoas conheceram nosso trabalho, resolveram ajudar com suas doações e ajudando a divulgar a campanha. A situação atual em que nos encontramos também comprova como cada centavo que entrou como doação foi utilizado apenas na compra das cestas básicas”, conta Paulo.