O que a apresentadora Astrid Fontenelle, as cantoras Lady Gaga, Selena Gomez e Tony Braxton, e também o cantor Seal tem em comum? Eles são portadores de Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) uma condição em que o sistema de defesa do corpo se volta contra ele mesmo, atacando seus próprios tecidos e órgãos. Essa patologia pode impactar uma variedade de sistemas do corpo, incluindo articulações, pele, rins, células sanguíneas, cérebro, coração e pulmões. É uma condição séria que pode levar à morte, sem o devido tratamento.
E hoje, dia 10 de maio, todo o mundo se volta para o Dia Internacional da Atenção às Pessoas com Lúpus. A data importante visa aumentar a conscientização sobre a doença e apoiar aqueles que vivem com ela. Com aproximadamente 65 mil casos diagnosticados anualmente, o Brasil é um dos países com maior incidência da doença no mundo. Em Minas Gerais, cerca de 3.500 novos casos são identificados anualmente, contribuindo significativamente para essa estatística nacional. Em Belo Horizonte, a incidência é ainda mais preocupante, com uma média de 1.200 novos casos por ano.
De acordo com Maria Fernanda Guimarães, presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia, essa doença atinge pessoas em qualquer idade, porém entre 20 e 45 anos são os mais afetados. As causas exatas da doença ainda não são totalmente compreendidas, mas acredita-se que fatores genéticos, hormonais e ambientais desempenhem um papel importante. Acredita-se que uma a cada 1.700 mulheres no Brasil tenha Lúpus. Os sintomas podem variar de leves a graves e podem incluir fadiga, dor nas articulações, erupções cutâneas e danos em órgãos vitais, como rins e coração.
TRATAMENTO
Embora não haja cura para o Lúpus, existem tratamentos disponíveis para controlar os sintomas e prevenir danos aos órgãos. O tratamento é individualizado e pode incluir medicamentos como anti-inflamatórios, corticosteroides, imunossupressores e antimaláricos. Além da medicação, é essencial adotar um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada, atividade física regular e proteção solar adequada, já que a exposição ao sol pode desencadear ou piorar os sintomas do Lúpus.
De acordo com Maria Fernanda é possível gerenciar o Lúpus e melhorar a qualidade de vida dos pacientes por meio do diagnóstico precoce, tratamento adequado e o apoio contínuo da família e de um profissional da reumatologia. “Já que se trata de uma doença autoimune bem complexa e que ainda intriga a Medicina. O tratamento deve ser realizado somente após a indicação de um especialista”, alerta a médica.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Os portadores do Lúpus apresentam manifestações clínicas diversas, as mais frequentes são:
a) LESÕES DE PELE: ocorrem em cerca de 80% dos casos, ao longo da evolução da doença. As lesões mais características são manchas avermelhadas nas maçãs do rosto e dorso do nariz, denominadas lesões em asa de borboleta (a distribuição no rosto lembra uma borboleta) e que não deixam cicatriz. As lesões discóides, que também ocorrem mais frequentemente em áreas expostas à luz, são bem delimitadas e podem deixar cicatrizes com atrofia e alterações na cor da pele. Na pele também pode ocorrer vasculite (inflamação de pequenos vasos), causando manchas vermelhas ou vinhosas, dolorosas em pontas dos dedos das mãos ou dos pés. Outra manifestação muito característica no LES é o que se chama de fotossensibilidade, que nada mais é do que o desenvolvimento de uma sensibilidade desproporcional à luz solar. Neste caso, com apenas um pouco de exposição à claridade ou ao sol, podem surgir tanto manchas na pele como sintomas gerais (cansaço) ou febre. A queda de cabelos é muito frequente mas ocorre tipicamente nas fases de atividade da doença e na maioria das pessoas, o cabelo volta a crescer normalmente com o tratamento.
b) ARTICULARES: a dor com ou sem inchaço nas juntas ocorre, em algum momento, em mais de 90% das pessoas com LES e envolve principalmente nas juntas das mãos, punhos, joelhos e pés, tendem a ser bastante dolorosas e ocorrem de forma intermitente, com períodos de melhora e piora. Às vezes também surgem como tendinites.
c) A INFLAMAÇÃO DAS MEMBRANAS QUE RECOBREM O PULMÃO (PLEURIS) E CORAÇÃO (PERICARDITE): são relativamente comuns, podendo ser leves e assintomáticas, ou, se manifestar como dor no peito. Caracteristicamente no caso da pleuris, a dor ocorre ao respirar, podendo causar também tosse seca e falta de ar. Na pericardite, além da dor no peito, pode haver palpitações e falta de ar.
d) INFLAMAÇÃO NOS RINS (NEFRITE): é uma das que mais preocupam e ocorrem em cerca de 50% das pessoas com LES. No início pode não haver qualquer sintoma, apenas alterações nos exames de sangue e/ou urina. Nas formas mais graves, surge pressão alta, inchaço nas pernas, a urina fica espumosa, podendo haver diminuição da quantidade de urina. Quando não tratada rapidamente e adequadamente o rim deixa de funcionar (insuficiência renal) e o paciente pode precisar fazer diálise ou transplante renal.
e) ALTERAÇÕES NEURO-PSIQUIÁTRICAS: essas manifestações são menos frequentes, mas podem causar convulsões, alterações de humor ou comportamento (psicoses), depressão e alterações dos nervos periféricos e da medula espinhal.
f) SANGUE: as alterações nas células do sangue são devido aos anticorpos contra estas células, causando sua destruição. Assim, se os anticorpos forem contra os glóbulos vermelhos (hemácias) vai causar anemia, contra os glóbulos brancos vai causar diminuição de células brancas (leucopenia ou linfopenia) e se forem contra as plaquetas causará diminuição de plaquetas (plaquetopenia). Os sintomas causados pelas alterações nas células do sangue são muito variáveis. A anemia pode causar palidez da pele e mucosas e cansaço e a plaquetopenia poderá causar aumento do sangramento menstrual, hematomas e sangramento gengival. Geralmente a diminuição dos glóbulos brancos é assintomática.
DIAGNÓSTICO PRECOCE
O diagnóstico é feito por meio do reconhecimento pelo médico de um ou mais dos sintomas citados. Ao mesmo tempo, como algumas alterações nos exames de sangue e urina são muito características, eles também são habitualmente utilizados para a definição final do diagnóstico. Exames comuns de sangue e urina são úteis não só para o diagnóstico da doença, mas também são muito importantes para definir se há atividade do LES.
Embora não exista um exame que seja exclusivo do LES (100% específico), a presença do exame chamado FAN (fator ou anticorpo antinuclear), principalmente com títulos elevados, em uma pessoa com sinais e sintomas característicos de LES, permite o diagnóstico com muita certeza. Outros testes laboratoriais como os anticorpos anti-Sm e anti-DNA são muito específicos, mas ocorrem em apenas 40% a 50% das pessoas com LES.
Alguns exames de sangue e/ou de urina podem ser solicitados para auxiliar não no diagnóstico do LES, mas para identificar se há ou não sinais de atividade da doença. Existem critérios desenvolvidos pelo Colégio Americano de Reumatologia, que podem ser úteis para auxiliar no diagnóstico do LES, mas não é obrigatório que a pessoa com LES seja enquadrada nesses critérios para que o diagnóstico de LES seja feito e que o tratamento seja iniciado.